sábado, 7 de fevereiro de 2009

LEISHMANIOSE - UM PERIGO À ESPREITA?

Doença infecciosa, porém, não contagiosa, atinge homens, cães e muitos animais silvestres. Há dois tipos de leishmaniose: tegumentar ou cutânea e a leishmaniose visceral ou calazar. Na leishmaniose cutânea os animais silvestres que atuam como reservatórios podem ser os roedores silvestres, tamanduás, preguiças... Na visceral, a principal fonte de infecção são os canídeos, dentre os animais silvestres cita-se raposa do campo, entre os domésticos, os cães.

Os vetores são flebotomíneos (insetos) hematófagos (que se alimentam de sangue). O inseto pica o hospedeiro e ingere uma forma de protozoário. No interior do inseto, esta forma se desenvolve, migrando para a 'boca' do inseto que inocula em um novo hospedeiro, havendo um desenvolvimento de outro tipo de forma no interior dos macrófagos (células que fazem parte do sistema de defesa do indivíduo). Geralmente a doença acomete cães sadios, enquanto que nos humanos tem predileção por pessoas com baixa imunidade (crianças, idosos, doentes). Uma das maiores dificuldades de combate a leishmaniose é que os sintomas nos cães podem levar de 2 meses a 6 anos para aparecerem, e mais da metade dos cães portadores não apresentam sinais.

A propagação da leishmaniose para o Sudeste vem ocorrendo porque o mosquito transmissor Lutzomia longipalpis existe em todas as regiões. Segundo estudos divulgados na Internet, Viana e Cariacica são regiões comprovadamente endêmicas de leishmaniose tegumentar, porém, nestas localidades, não foram registrados até os registros dos citados estudos, casos de calazar.

Devemos informar amplamente aos nossos amigos e familiares sobre a doença, visando evitar aqui no Espírito Santo o ocorrido em outros Estados brasileiros, onde com o estabelecimento da doença muitas famílias abandonaram seus cães nas ruas ou entregaram ao Centro de Controle de Zoonoses para eutanásia. Lembramos que o extermínio é a prática indicada por decreto federal como controle da doença, mas já vimos essa história antes, na tentativa do governo em combater a raiva também através da eutanásia e sabemos que esse não é o caminho, segundo a própria Organização Mundial de Saúde.

A polêmica em volta da leishmaniose está em quase tudo, passando pelo diagnóstico, tratamento e profilaxia. Sobre a obrigatoriedade da eutanásia: em 2007 o Tribunal de Justiça do Mato Grosso julgou procedente ação interposta com o objetivo de suspender a eutanásia obrigatória de cães com sorologia positiva para leishmaniose naquele Estado, mantendo por unanimidade o impedimento do CCZ de eutanasiar os animais sem expresso consentimento do proprietário.

A doença existe em outros locais do mundo, como Europa e Estados Unidos, mas o Brasil é o único país em que o sacrifício dos animais é obrigatório. "Na Espanha, onde a doença também é endêmica na variação canina, existem medicamentos e até ração desenvolvidos especificamente para os cães doentes, e o dono tem o direito de decidir se trata ou não o animal", diz o veterinário Fábio dos Santos Nogueira, que fez seu doutorado sobre a doença e não acredita que a eutanásia resolva o problema. "Desde 97, foram sacrificados mais de 13 mil cães na região de Araçatuba e a doença não foi controlada. Quem gosta de cachorro substitui o cão sacrificado por outro, que fatalmente será infectado pelos mesmos mosquitos, e continuará o ciclo", explica Fábio. (Revista da Folha 26/06/2008).

Até a vacina, Leishimune®, produzida pela Fort Dodge Saúde Animal, é outra polêmica. A utilização da vacina só é permitida em áreas endêmicas, e os custos ainda são elevados para a população de baixa renda (R$ 80,00 a dose). Aprovada pelo Ministério da Agricultura, responsável pela regulamentação da medicação animal, ainda não é recomendada como forma de prevenção pelo Ministério da Saúde. Veja o que diz o órgão:

"Estudos experimentais apontam para uma eficácia vacinal de 76,0% contra os quadros clínicos moderados e graves da doença nos cães. Entretanto, as evidências científicas até o momento disponíveis não fazem referência clara ao efeito da vacina na prevenção da infecção, nem sobre a infectividade do cão vacinado para o vetor (transmissão do parasito). A prevenção da infecção nos cães, e conseqüentemente da transmissão do parasito para o vetor, corresponde a uma condição imprescindível para a vacina ter potencial uso como estratégia de controle da leishmaniose visceral humana, desde que a intervenção apresente relações custo-efetividade e custo-benefício satisfatórias. ...Um outro aspecto relevante a ser considerado com a introdução da vacina, que diz respeito à modificação do estado imunológico dos cães vacinados, é a impossibilidade de diferenciar a infecção natural da vacinação, por meio dos testes imunológicos disponíveis no mercado, bem como nos Laboratórios de Saúde Pública (LACEN) e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), dificultando assim, as ações de vigilância e controle do PVCL. Diante do exposto, o Ministério da Saúde, buscando preservar a saúde da população, reforça a não indicação da vacinação animal com a vacina em questão para controle da doença humana (uso em saúde pública), assim como será mantida a indicação de eutanásia de animais sororreagentes, mesmo vacinados, que porventura sejam encontrados nas áreas de transmissão em que inquéritos caninos sejam realizados. não autorização dos laboratórios da rede pública na realização dos exames sorológicos com a finalidade de descartar a infecção canina para posterior vacinação."

Enfim, a precipitação, tanto no diagnóstico quanto na decisão do tratamento pode levar a absurdos como o acontecido em Araçatuba/SP, onde, devido a um erro de laboratório, mais de 400 cães que não eram positivos para Leishmaniose foram sacrificados.

Como último recurso, se a eutanásia for inevitável, devemos ter o direito de que seja feita de maneira humanitária, por injeçao intra-venosa, pelo Veterinário escolhido pelo proprietário do animal.


SAIBA MAIS:

MODOS DE TRANSMISSÃO


O mosquito palha ou asa branca é mais encontrado em lugares úmidos, escuros, onde existem muitas plantas.

PARA O HOMEM: A leishmaniose é transmitida através da picada de um mosquito E NÃO TRANSMITIDA DIRETO DO CÃO AO HOMEM. O mosquito-palha pica um animal infectado. Ao picar outro animal ou pessoa sã, o mosquito transmite o parasita. Mesmo que se exterminasse todos os cães o problema não acabaria, outros animais podem servir de hospedeiros. Outras formas a serem consideradas possibilidades de transmissão: transfusão sangüínea, drogas injetáveis e até da gestante para o feto.

PARA OS CÃES: Em cães, além do mosquito, há o risco de transmissão nas campanhas de vacinação se a agulha não for trocada a cada aplicação. Uma saída pode ser levar suas próprias seringas ou prestar atenção se a agulha foi trocada, exigindo a troca.

DIAGNÓSTICO NOS CÃES
Feito mediante exame de sangue do cão, porém, mesmo que o resultado seja positivo, existe chance de o animal não estar infectado, somente os exames sorológicos nos permitem diagnosticar se o cão está parasitado. Também através de esfregaços ou raspado de pele e biopsia de linfonodos ou de medula.

EXISTE TRATAMENTO?
PARA O CÃO: SIM, embora não se obtenha, geralmente, a cura, o tratamento proporciona uma boa qualidade de vida e uma sobrevida de até 6 anos aos animais afetados. Existem os veterinários que preferem exterminar todo e qualquer cão cujo exame dê positivo, outros são favoráveis ao tratamento dos positivos que não apresentam sinais da doença e alguns são favoráveis ao tratamento de cães que apresentem alguns sinais sem comprometimento ainda da função dos rins. Com o protocolo utilizado em países como Espanha, Portugal, Itália e França, os médicos veterinários daqui têm conseguido bons resultados com a melhora clínica do cão. É um procedimento longo e custoso, exigindo do tutelante do animal muita dedicação. Outro fato é que nem todos os cães podem ser submetidos aos protocolos utilizados: deve-se avaliar o estado geral do animal para ver se ele tem condições de suportar o tratamento. Importante: o tratamento elimina os sintomas, mas o animal continua portador.
PARA O HOMEM: SIM, procure imediatamente um médico, porque se não for tratada pode levar a morte.

SINTOMAS NOS CÃES:


Os sinais mais comuns da doença são:
- problemas de pele e pelo (dermatite seborréica, falta de pelo ao redor dos olhos, feridas na ponta das orelhas e na ponta do focinho, úlceras superficiais nos lábios e pálpebras, que podem espontaneamente sumir),- anemia,- crescimento exagerado das unhas,- emagrecimento,- apatia, - febre, - sangramento nasal ou oral, - problemas nos olhos, - pode haver aumento do abdômen por causa do aumento de órgãos (baço e fígado),- caquexia,- aumento dos linfonodos,- problemas renais.

SINTOMAS NO HOMEM:
- Leishmaniose visceral: febre irregular, prolongada; anemia; indisposição; palidez da pele e ou das mucosas; falta de apetite; perda de peso; inchaço do abdômen devido ao aumento do fígado e do baço. É uma doença sistêmica, pois acomete vários órgãos internos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea. Esse tipo de leishmaniose acomete essencialmente crianças de até dez anos; após esta idade se torna menos freqüente. É uma doença de evolução longa, podendo durar alguns meses ou até ultrapassar o período de um ano.
- Leishmaniose cutânea: duas a três semanas após a picada pelo flebótomo aparece uma pequena pápula (elevação da pele) avermelhada que vai aumentando de tamanho até formar uma ferida recoberta por crosta ou secreção purulenta. A leishmaniose tegumentar caracteriza-se por feridas na pele que se localizam com maior freqüência nas partes descobertas do corpo. Tardiamente, podem surgir feridas nas mucosas do nariz, da boca e da garganta. Essa forma de leishmaniose é conhecida como "ferida brava".

MEDIDAS A SEREM TOMADAS (CÃES):
- vacinação a partir de 4 meses, se os exames derem negativos. A primeira aplicação é de 3 doses, a cada 21 dias. Deve ser repetida anualmente,
- Combate ao mosquito, dedetizando-se o ambiente onde ficam os cães com a ajuda de um profissional para evitar envenenamento dos animais.
- Advantage max 3 ou Pulvex pour-on, usados exclusivamente em cães - são venenosos para gatos. São ampolas que devem ser agitadas e depois aplicadas nas costas do cão (região da nuca) uma vez por mês, afastando-se o pelo para o produto atingir a pele.
- Coleira Scalibor, da Hoescht, em cães a partir dos três meses. Tem ação anti-pulgas e carrapatos, e é repelente a mosquitos.
- Telar o canil e manter os cães no canil protegido de mosquitos no período entre uma hora antes do sol se por até o nascer do sol no dia seguinte, que é quando o mosquito está mais ativo,
- Evitar deixar o cão exposto ao ar livre entre 18h e 23h, quando há mais insetos.

MEDIDAS A SEREM TOMADAS (PESSOAS):
- No homem, medidas clínicas, diagnóstico precoce e tratamento. A partir dos sintomas, o homem deve ser submetido a exames e tratamento adequado, diferente do utilizado nos cães.
- Campanhas educativas,
- utilizar repelentes na pele, quando estiver em matas de áreas onde há a doença;
- Manter quintais e jardins limpos para evitar a reprodução do mosquito.
- Uso de mosquiteiros e telas protetoras, mas atenção na hora da escolha: os flebótomos medem de 2 a 3 milímetros de comprimento e devido ao seu pequeno tamanho são capazes de atravessar as malhas dos mosquiteiros e telas, opte pelos de trama fina.


"O cão não é o vilão da história e sim, o mosquito."
Manfredo Werkhauser, Presidente da Anclivepa de MG


ATENÇÃO: Somente médicos de humanos e médicos veterinários podem diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. As informações disponíveis aqui possuem apenas caráter informativo.


Texto compilado e adaptado da Internet.

Fontes:
Ministério da Saúde do Governo Federal do Brasil
Secretaria de Estado da Saúde SP

ProAnima
Neafa
SEGS

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